Monday 22 December 2008

Silent Nights

Rua de Santa Catarina, Porto. Dezembro de 2008. Fotografia de Mariana Gelabert.


Sente-se o Natal nas ruas do Porto. Caminho sozinho pela Baixa, absorvendo os odores, cores e sons típicos. As castanhas assadas vendidas na rua, as luzes que brilham entre as casas antigas das ruas que sempre conheci, as expressões características desta cidade nortenha. Percorro as rotas que antes fazia tantas vezes e agora são apenas passeios como os de qualquer turista, procuro as pessoas que antes eram conhecidas nos cafés, nos bares e nas lojas, mas que já não encontro. Ou porque esses sítios já não existem, ou porque as pessoas já não estão vivas ou foram elas também procurar a sua sorte noutros sítios. Lembro-me de um homem magro, de óculos grossos e com uma perna defeituosa que trabalhava no antigo Café Imperial da Avenida dos Aliados e que há cinco anos encontrei na Baixa a pedir esmola, inválido, idoso e sem ninguém. Não o encontrei mais, por muito que observasse as pessoas que pediam na rua, por muito que perguntasse por ele em cafés, quiosques ou aos engraxadores de sapatos que ainda recordava. Também já não encontrei alguns familiares e conhecidos, cuja ausência eu já conhecia mas é mais real, muito mais real nesta altura do ano. Tudo isto me vem à memória ao caminhar nestas ruas, tal o poema de Natal do Vinicius de Morais que me deu a conhecer alguém há já muitos anos: “Para isso fomos feitos / Para lembrar e ser lembrados / Para chorar e fazer chorar / Para enterrar os nossos mortos”. Digo estas palavras enquanto ando de mãos nos bolsos mas sorrio ao recordar os rostos que conheci estes últimos dias, as caras dos bebés e das crianças que já preenchem os nossos jantares de Natal, os filhos dos amigos que vieram alegrar as nossas vidas e preencher os espaços vazios dos que já não estão. Também para isto fomos feitos, “Para a esperança no milagre / Para a participação da poesia”. Sim, sente-se o Natal nas ruas do Porto, nas vozes e nos silêncios, nas luzes e na escuridão.

5 comments:

Caroline Verde said...

Infelizmente no brasil , já não se sente o natal.De alguma forma perdeu suas cores, talvez foram roubadas ou escondidas,mas eu sei que o 'papai noel' ainda vai fazer essa magica funcionar.

intruso said...

Para a participação da poesia.

:)

abraço
BOAS FESTAS

Anonymous said...

Passei aí uma destas noites. Aquela cor rubi está um espectáculo. [as cores azuis aqui e acolá é que dispensava mas agora não interessa nada que nem se vê ali] =o))))))))

Boas Festas! :) :) :)

SMA said...

Desejo-te um Natal e Feliz Ano Novo de 09
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em Primavera de afectos
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bjo

Anonymous said...

Boas Festas. Porque será que o Natal está tão ligado às ausências?
Tudo se perde e se renova...