Thursday 23 July 2009

Porque há pessoas assim

Festas de La Mercé. Barcelona, Setembro de 2007. Fotografia de K.



“As únicas pessoas autênticas, para mim, são as loucas, as que estão loucas por viver, loucas por falar, loucas por serem salvas, desejosas de tudo ao mesmo tempo, que não bocejam, mas ardem, ardem, ardem como fabulosas grinaldas amarelas de fogo-de-artifício a explodir”


Jack Kerouac, "On the road"

Tuesday 14 July 2009

“O tempo ri-se de nós, e os anos vão passando”

Barcelona, Julho de 2009. Fotografia de V.B.


O tempo ri-se de nós, e os anos vão passando”. Ouço as palavras enquanto observo o cabelo encaracolado da Claudia. Os seus olhos azuis acompanham uma nuvem enorme que passeia no céu, além da grande janela, e deixo a sua frase deslizar nos braços do silêncio, ponderando o seu significado. Os anos vão-se, vão-se de nós, sem termos nenhuma hipótese de descobrir os segredos que cintilam nos olhares. O que se oculta atrás de cada rosto, debaixo de cada pele? Deixamo-nos levar pelos sonhos, pelos ecos perenes da esperança, como um longo abraço que alguma vez demos, quando o tempo era uma vaga abstração e a juventude esculpia palavras na nossa alma. Um arrepio percorre o corpo da Claudia, como se adivinhasse os meus pensamentos, e com a mão afaga lentamente a pele mulata do seu braço. Pouso a minha mão sobre o seu ombro. Os anos vão-se de nós, atravessam-nos e deixam pegadas esbatidas no nosso interior. Por vezes, em Domingos silenciosos, em tardes de mansa contemplação, apercebemo-nos disso, na metáfora de uma nuvem que segue o seu caminho, na desilusão que alguém leva no olhar.