Há dias em que parece que ninguém se lembra que existo, dias que teimam em escapar-se por entre os meus dedos como metafóricos grãos de areia. Há dias em que a vida se encolhe e parece mais curta, me aperta e oprime e é difícil despertar e mais difícil ainda voltar a dormir. Sim, há manhãs em que o único som que ouço é o do sangue que corre nas minhas veias, depois do turbilhão de sons da noite anterior. Dias de Inverno que vão chegando, caíndo como folhas mortas das árvores, dias de conservar o espírito virado para dentro, silencioso como o céu de chumbo lá fora. Mas há dias em que por entre a chuva, o frio e as nuvens de tormenta aparece um ténue raio de luz, algo que impede que me deixe cair nalgum fosso escuro. Observo o livro delgado que descansa dentro de um envelope na mesa de cabeceira, tem um selo de Portugal e o carimbo dos correios diz “Anjos – Lisboa”. Sorrio, porque penso que foi um anjo de Lisboa quem me mandou aquelas palavras, que estavam ali à espera que um dia assim me viesse visitar. E há dias em que recuso chorar no escuro, padecer sobre os meus ossos e amortalhar-me no esquecimento. Há dias em que me agarro à vida e digo ao Inverno que não estou e, virando as costas às suas frias reflexões, digo-lhe que volte noutro dia.
5 comments:
Espero que o teu olhar já esteja menos turvo... :D
Faz tempo que não passava por aqui. Para quando um novo post? um abraço
passei para deixar um olá.
:)
um beijo. :)
vai lá ao meu canto.
E há dias que não são assim
(mutáveis e diversos, os dias)
belo texto...
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