Tuesday 15 December 2009

Bon Nadal

Barcelona, Dezembro de 2009. Fotografia de K.


Faz frio, faz tanto frio. Parecia que este ano ele não chegaria, mas aqui está, um monstro de escuridão e vento que varre toda a cidade. Caminho sozinho pela Rambla para chegar ao bar onde tinha combinado o meu encontro. Na Rambla há muita gente mas assim que giro para o Gótico apenas as trevas e o vento ficam. Parece que as pessoas vão sendo varridas da rua para me abrir caminho, e estou agora sozinho, rodeado pela noite, com as estrelas a brilhar no céu gelado de Dezembro. Caminho em silêncio, as mãos escondidas nos bolsos do casaco e os lábios detrás do cachecol. Se não visse o luar que vai aparecendo entre os cruzamentos das vielas diria que está prestes a nevar. Se pudesse pedir um desejo… Penso que dentro de uns dias já estou em casa dos meus pais de novo, também eles voltam depois de tanto tempo. Estranho como todos acabamos a viver longe das pessoas que vamos conhecemos. As rajadas de vento gelado despertam-me de novo para a realidade e já vejo na esquina a luz e ouço os sons do local onde fará calor e estão aqueles que me esperam aqui. Quando estiver a caminho de casa recordarei apenas estes dias, recordarei apenas todos os dias que foram bons.

Thursday 3 December 2009

O prodígio desta cidade


Barcelona, Dezembro de 2009. Fotografia de K.

São profundas as linhas azuis do céu outonal. Ainda há folhas nas árvores e o frio que finalmente chegou é esbatido pelo calor do sol do meio dia. As verdades passeiam nas ruas em dias assim, deixam as suas palavras de vento suspensas no ar para quem as quiser entender. “Eh, tu, não penses mais nisso. Continua o teu caminho, não voltarás nunca atrás”. O meu pensamento deixa-se levar pela brisa, deixa-se levar pela beleza do dia. “Não esperes nunca, nada vai alguma vez esperar por ti”. É hora do almoço e em breve terei que pegar na bicicleta e voltar ao escritório. Antecipo o gozo da brisa fria de Dezembro, a descer rapidamente a interminável Diagonal. Sim, penso, não há nada que não tenha solução, se não me obcecar com a resposta. São profundas as linhas azuis do céu, no final das avenidas reina um sonho com som de mar e o sol aquece mais do que eu esperava. Monto na bicicleta, viro em direcção à praia e deixo-me levar.