Sunday 18 July 2010

Tarde verde


Parc de la Ciutadella, Barcelona, Julho de 2010. Fotografia de K.


A tarde é esmagadoramente abrasadora. A sombra da grande árvore e a proximidade do lago do Parc de la Ciutadella dão algum conforto à omnipresente sensação de calor. Na relva verde a luz passeia em todo o seu esplendor, as crianças e as árvores são imagens desta paz estival que me invade, e sei que aqui posso meditar e encontrar o vazio que procuro. Fundo-me com o que me rodeia, as imagens e os sons tornam-se meras recordações na minha mente, a vida do mundo um eco ancestral que se esvai. A liberdade da meditação é uma realidade agora, o pensamento e o sentimento são asas de uma consciência que está agora livre e prescinde deles.


O vazio preenche-me. A solidão emerge das cinzas da memória, feita de cinzas e memória, uma solidão sempre crescente, interior. E neste isolamento interior, no absoluto abandono de tudo eu alcanço o que busco. Esta solidão espontânea é algo que todos temos dentro de nós, una connosco, inseparável do resto do nosso ser. Estou aqui, mas já não estou aqui. O meu corpo permanece na sombra verde do parque, sentado na relva, com as crianças a brincar e a rir ao meu redor, mas a mente está sozinha. É um isolamento que o cérebro cria, uma postura de introspecção e passividade, como algo dentro de mim buscasse uma imobilidade ancestral. Como se eu procurasse aquele momento original em que tudo é solidão, em que não há pressões nem influências, nem coisas más nem boas. O momento em que as cinzas que restam da chama da vida se elevam, e a morte do passado acontece. Nessa altura começa uma viagem infinita pelo desconhecido e, na pureza do incomensurável, nasce a liberdade.

Wednesday 7 July 2010

A cor da saudade


Praia de Bogatell, Barcelona. Julho de 2010. Fotografia de K.



Não me tinha apercebido de quanta falta me fazes até que te vi a noite passada entre as brumas de um sonho, até que a música que ouvia esta manhã me recordava de ti. Não me tinha apercebido de como as tuas palavras são ternas e verdadeiras, e ecoam dentro de mim, até que me lembrei da tua voz luminosa, como um sol sobre a minha sombra. Não sabia que alguém se podia sentir assim, quando tu e eu somos só nomes, imagens e vozes. A cor da saudade é sépia. Não me tinha apercebido que gostava mesmo que estivesses aqui. Não, não me tinha apercebido, mas é assim.