Wednesday 16 April 2008

Luminosa pende a vida das nuvens

Port de Barcelona, Abril de 2008. Fotografia de M.A.

Luminosa pende a vida das nuvens, espalhando-se pelo porto, delicada e abundante. Enquanto a água se enruga lentamente para descansar, o vento suave corre pela ponte de madeira em busca dos momentos que a calidez da tarde promete. O céu é vasto como se guardasse um segredo imenso, um intenso convite a largar todo o receio de partir, a zarpar esta mesma tarde, a pisar a proa de uma qualquer embarcaçao e abandonar as velas do mastro ao vento. E as velas inchariam como nuvens febris, soltas no ar salgado, alvas como anjos empapados de águas mediterrânicas. Sonho com as velas que se confundem com os desfiladeiros sépia do céu do fim da tarde, com a água que se abre à passagem dos cascos brancos dos barcos. Abençoada corrente, venturoso vento, a pior tormenta hoje nao faria mais que submergir-me no novo mar do céu.

Monday 7 April 2008

O Segredo

Marzia. Autoretrato. Barcelona, Abril de 2008.

Vieste e deixaste-me a tua voz, e permanece ainda o tom melífluo das tuas palavras entre os espaços que visitaste. Deixaste-me o céu alaranjado da tarde e a calidez da amizade, a eterna alegria do talvez. Deixaste-me o Mediterrânico, os rios e as montanhas que se interpõem entre nós, e também a fórmula do regresso. Deixei-te o sol, a claridade enérgica das manhãs e a intensidade da luz difusa. Deixei para mim as trevas, a noite cerrada que já não assusta nem separa, para embalar em mim esse fulgor e continuar a ouvir a tua voz. Voltaste por entre as horas que passaram e tornei a encontrar-te nos jardins desta cidade, depois de cruzadas as portas romanas do tempo. No silêncio calarei o nosso segredo.