Tuesday 28 April 2009

Estes maravilhosos anos

Bairro de Sants, Barcelona, Abril de 2009. Fotografia de K.

Pensei que não voltaria mais a esta casa. Apesar de tudo, acabo por regressar. Os laços que unem as pessoas são misteriosos e já aprendi a não fazer demasiadas perguntas a mim mesmo, e deixar falar a voz do coração. Vejo-a deitada na cama, o olhar perdido nos grãos de luz que entram pela persiana. Pede-me que não a fotografe mais e eu rio-me e digo-lhe sempre que é a última vez, que um dia lhas mostrarei para que se lembre de como era bela e jovem, e de como eu a via. Ela fala sem olhar para mim: Sim, verei as tuas fotografias destes maravilhosos anos. Sento-me na penumbra e desejo esvaziar este quarto de tristeza. Ouço-a respirar devagar e em silêncio, procuro a sua mão na penumbra e aperto-a com força. Não deixes vencer-te pelo desalento. Não deixes de acreditar no futuro, a vida pode sempre mudar. Mesmo quando há tanto tempo um emprego não aparece e a dúvida e o desânimo são quotidianos. Mesmo se te sentes despojada da luz e do sorriso e parece que dás de caras com um futuro que não te pertence. Não deixes passar a vida sem a viver. A vida pode ser extraordinária e eu sei que acreditas, como eu, que as palavras podem mudar o mundo, e as tuas são as que terão que escrever o teu próprio futuro.

Thursday 23 April 2009

Sant Jordi

Dia de Sant Jordi, Abril de 2008, Barcelona. Fotografia de V.B.


O dia de S. Jorge é o dia dos namorados em Barcelona, e a Primavera parece recusar-se a aparecer em todo o seu esplendor até este dia, como se se guardasse para ele ou se fizesse anunciar de outra forma na Catalunya. Este dia é diferente pelas flores que há nos mercados, nas ruas, e pelo aroma que há no ar, em toda a cidade. As rosas recém-abertas são o reflexo dos milhares de sorrisos das mulheres que passeiam nas avenidas, e em dias como hoje os problemas parecem longínquos, e todos temos coragem para enfrentar todos os dragões do mundo.

Wednesday 15 April 2009

A magia da Cidade do Leão

Singapura vista do Merlion Park, Abril de 2009. Fotografia de K.


Há sítios mágicos neste planeta que me deixam sem fôlego e com vontade de viajar sem pausa, de conhecer o mundo onde vivo. Senti-o no Singapore Flyer, uma roda gigante de observação a cento e sessenta e cinco metros do solo, de onde se vê toda a beleza da Marina Bay e, nos dias mais claros, se avista inclusivé a longínqua Indonésia. Senti-o de novo no Merlion Park, um desses sítios onde pensamos que o céu está sempre azul e a estátua de setenta toneladas do Merlion é na verdade o Rei Pescador, saído da lenda para saudar as águas, as árvores e a felicidade etérea de Singapura. Convidaram-me a jantar aí perto, num sítio luxuoso cheio de luzes, embora muito menos belas que as luzes da noite lá fora. Enquanto esperava dirigi-me ao bar e aí vi uma mulher que limpava uma área de acesso, estava ajoelhada e esfregava com um pano o chão. O nosso olhar cruzou-se e eu sorri, ela sorriu, e vi nos seus olhos a beleza e a vergonha. Fiquei também um pouco incómodo pela situação, mas não com vergonha. Sentei-me no bar e continuei a vê-la na sua faena, esfregando o soalho com um pano molhado e renovando a operação com detergente e um balde de água. As mãos pequenas esfregavam e escorriam o pano, faziam o trabalho que têm que fazer, nem rápido nem lento. O cabelo dela era negro como a asa de um pássaro e pensei que também ela quereria estar num lugar feliz, como num sonho, talvez quando terminasse o turno fosse até ao rio, talvez com a família. Não quer dizer que seja alguma espécie de milagre, nem uma sensação enganosa, mas a maneira como senti a luz que irradiava daquela vida foi mágica. A maneira como ela fazia o seu trabalho, tão simples mas duro, a maneira como sorriu quando passei e como continuou a trabalhar, a maneira como pensei nestas palavras cheias da água, árvores e felicidade etérea de Singapura.

Monday 6 April 2009

Hong Kong

Kowloon Park, Hong Kong, Abril de 2009. Fotografia de K.



Hong Kong é uma flor que acaba de brotar, brilhante e em perpétua mudança. É a brisa da tarde que acaricia as folhas das árvores num dia soalheiro de Verão, bailando com as palmeiras e os limoeiros. Hong Kong é uma mulher bonita, ingénua nos seus doces movimentos, eterna no seu sorriso infantil, delicada nos seus traços asiáticos. Hong Kong é o ritmo imparável de um mundo paradigmático, é o segredo da vida que contam as cores, os aromas e a música das ruas e dos parques. Hong Kong ficou marcada em mim.