
Debruças-te no balcão quando os demais já se foram, e não vês a cara séria do barman que fecha o sítio lentamente. Não foste capaz de incendiar a vida, de vivê-la e reduzi-la a cinzas, e escolher os caminhos sem medo. Os teus lábios estão selados para o mundo e só se entreabrem para sorver o último whisky. Não mais te levantaste cantarolando velhas melodias irlandesas, como aquela do marinheiro bêbado que cantavam os jovens da mesa do fundo horas antes. No teu âmago afogam-se as baladas e canções do mar, extraídas dos velhos cancioneiros celtas, já esquecidas entre o whisky ambarino e o desânimo dos dias. Talvez vagueies pelos caminhos encharcados do Inverno, pelas alamedas que levavam à praça da tua aldeia, onde as raparigas outrora desejavam o teu coração de cotovia. Agora o teu coração bate devagar, separado da madeira do balcão pelo couro do casaco, e nele te debruças com aquela mesma melodia irlandesa no pensamento. Os olhos arrogantes do barman pousam de novo sobre ti e perguntam-se “que vamos fazer com o marinheiro bêbado?”. Mas já longe ia ele, perdido noutras marés, com a cabeça apoiada no balcão dos sonhos e toda a obliquidade da luz reflectida nos cabelos grisalhos.
10 comments:
corazones vagabundos...
um beijo, k.
.c.
Tão bonito. A vida que passa entre pedaços de tempo que ninguém observa, que jaz quase esquecida, até que palavras como as tuas lhe dão cor.
www.PNEThomem + www.PNETmulher.pt + www.PNETimagens.pt
obrigada pela visita. que a viagem continue por estes lados.
viva K... sem medo de percorrer o caminho que nos leva a cruzar a vida!
dias e diálogos e noites e bares...
selados.
[belíssima escrita]
abraço
Uma bonita história solitária!
Quantas vezes caminhamos por essas ruas como o nosso marinheiro...?
obrigado por passares pelo meu eu...dentro de pouco tempo voltarei a estar mais presente...aguardo as tuas novas visitas...
fins ara!!
gostei muito de entrar nesta cidade prodigiosa. adorei ler *
:)
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