Wednesday 28 October 2009

A língua materna


Porto, Maio 2005. Fotografia de M.G.


Às vezes regresso. Regressos curtos, espaçados entre si, em que aproveito para ouvir e falar a língua em que respiro, a língua que cada vez menos falo. A que chamamos língua materna, esquecida como uma anémona no azul profundo do mar, onde me refugio e sonho nas noites mediterrânicas. A língua em que escrevo, cada vez mais veladamente, cada vez mais uma mistura de diferentes línguas quotidianas. E, no entanto aí está, essa língua que sempre me aparece como as gaivotas que cruzam os céus das cidades costeiras. Nos silêncios revejo as palavras e ouço os fonemas que me levam àquelas pedras cinzentas e ao mar revolto. Não poderão adivinhar a ventura que são para mim estas letras que habitam o ar etéreo, quietas e caprichosas como soturnas vigilantes de um estranho exílio.

7 comments:

APC said...

Acho que podemos adivinhar, sim...

nikita said...

A tua lingua é a tua pátria...?!

K. said...

Nao, definitivamente a minha lingua nao e a minha patria. Nao poderia ser feliz sem a minha lingua. Mas sim, sou e serei, feliz sem a patria.

Rute Coelho said...

"A terra é a minha pátria, o céu o meu tecto, a liberdade a minha religião."

Aplica-se?

K. said...

Sim, acho que sim. Posso considerar-me um pouco cigano. :)

Anonymous said...

Adoro este post e a fotografia. Tenho aberto no Firefox, sem comentar, só para ler e sorrir para mim. Obrigada :)

K. said...

:blush: :)