Tuesday 9 October 2007

4 Gats

Els Quatre Gats. Fotografia de K.

Eu, o Julian, o Andrés e o Joaquín trabalhámos juntos em Madrid, há anos atrás, quando andávamos todos pelos vinte e cinco anos. A semana passada reencontrámo-nos os quatro, após anos de aventuras separadas, no Els Quatre Gats, no Bairro Gótico de Barcelona. Comemos bem, mas o mais importante foi o riso, os risos que não riam juntos há tanto tempo. Todas as épocas da vida vêm e vão, agora não parecia ter sido há tanto tempo aquele Fevereiro de 2001 em que formámos uma equipa fora de série. Mais cabelos brancos, mais responsabilidades, cada um tentando descobrir no outro vestígios da alegria das vidas que partilhávamos. No restaurante pairava aquele misticismo outonal de Barcelona, sublinhado pelos traços neo-góticos daquele edifício do final do século XIX. Entre as garrafas de vinho foram surgindo os laços que um dia nos uniram para sempre, foi nascendo a magia do reencontro, aquela cálida sensação de voltar a casa, ainda que a casa sejam três estarolas madrilenos.

Em 1894 um empregado de mesa do Le Chat Noir de Paris regressa a Barcelona com a ilusão de abrir um sítio semelhante, uma taberna onde se pudesse comer e beber barato. Dizem que baptizou o local como Els Quatre Gats porque naquela zona não passava ninguém, e pensou “aqui com sorte vão entrar quatro gatos”. Éramos nós, ali naquela mesa do canto. Quatro gatos com cinco garrafas de vinho, lambendo recordações nas vielas do passado e miando de felicidade por poder fazê-lo.

O Els Quatre Gats durou apenas meia dúzia de anos no virar do século, anos de esplendor ligados à boémia, à cultura e à mais vanguardista arte. Depois esteve fechado muito anos e quando abriu tentaram conservar o mesmo ambiente de fim de século e manter a essência do que representou a excelência da alma dos personagens que lhe deram vida. Naquela noite certamente não se aproximou disso, mas reinou ali um ambiente de cúmplice e tranquila festa, confirmado inclusivé pelos traços de bonomia nos sorrisos dos camareros. Não sei se foi na delícia do vinho que o vi, ou talvez nos três sorrisos diante de mim, mas a amizade era um milagre compartido, aqueles quatro gatos cantavam e tocavam com os talheres e os copos, celebrando o seu reencontro, bendizendo o seu acto, como que miando: que eflúvio de alegria nos permitimos.

5 comments:

Anonymous said...

12 de octubre, Fiesta de la Hispanidad :¡Viva España! ¡Viva la Guardia Civil!

K. said...

¿La Guardia Civil?


:D

Rute Coelho said...

É tão bom voltar atrás no tempo, nem que seja por momentos. Porque o verdeiro regresso ao passado é feito com pessoas. São elas que nos transportam no tempo. Ainda mais os amigos. Esses fazem evaporar o tempo que passa sempre. Mesmo sem darmos por isso. E deixa saudade...

Peg solo said...

os reencontros acendem sempre as luzes de nostalgia q nos transportam p os mm sentimentos e é sempre estranho o facil q é voltar à cumplicidade. estranho e bom!

ate já*

ps.talvz agr nos cruzemos pela cidade sem saber ;)

Anonymous said...

Lindo lindo texto de vida.