Wednesday 10 June 2009

Véspera de Santo António


Sofia, algures entre Porto e Lisboa, Junho de 2000. Fotografia de K.



Foi na véspera de Santo António, há quase uma década. Era segunda-feira e viajava de comboio desde o Porto com a Sofia. Voltávamos para a noite mais bonita de Lisboa e durante a viagem ríamos e brincávamos, e eu tirava fotografias das nossas tolices. No pequeno apartamento onde vivia estive a ver os efeitos da luz do fim de tarde, e a ouvir o vento suave que cantava nas janelas enquanto esperava a Sofia para sairmos. Aquele entardecer parecia ter rastos de eternidade, de uma esperança que parecia nascer da força com que a vida latia. Apoiado na janela, ouvia os rádios acesos em casas da vizinhança, as vozes que acompanhavam os fados que iam tocando. A magia da ilusão desta noite pairava já no ar, eram visíveis os segredos por desvendar na cara das pessoas que passavam em baixo na rua. Uns dias antes tinham-me dito que aos vinte e cinco anos tudo era possível. Ouvia a Sofia murmurar no quarto uma canção antiga e senti-me o homem mais afortunado do planeta. Não havia nada tão forte como essa voz, a voz de uma alma numa música longínqua, nada tão forte como o seu doce nome de mulher. Sim, a esperança passeava por Lisboa, e quando ela estava presente nada podia ficar escondido, nem esquecido. Foi na véspera de Santo António e a noite estrelada dos nossos vinte e cinco anos ainda estava por chegar.

1 comment:

nikita said...

Que lindo:'a esperança passeava por Lisboa'!Consegues transformar uma viagem, uma noite em algo de pessoal e intimo!
gostei!