Tuesday, 12 August 2008

Decomposição da luz

Carrer del Bisbe, Barcelona, Junho de 2008. Fotografia de V.B.


O tempo escapou-se quando começou a estação em que rimavam os nossos nomes, como se fôssemos adolescentes eternos. Abandonaram-nos as poesias clandestinas das ruelas do Bairro Gótico, as palavras e as caminhadas sob o prisma dos oblíquos raios do sol poente. Sem sabê-lo caminhávamos já em direcção às feridas interiores do silêncio, ali onde as vozes da memória perdem o seu vigor e as suaves ondas mediterrânicas varrem os resquícios dos dias passados. Às vezes vivemos num relâmpago e morremos o resto do tempo. Procurávamos a luz, como a lagarta que se metamorfoseia em borboleta, e levávamos dentro esse fulgor nas constelações profundas do nosso ser. Pensávamos ser os eternos exploradores do amanhã mas não suspeitávamos sequer da impossível convalescença do nosso futuro.

3 comments:

Anonymous said...

“Às vezes vivemos num relâmpago e morremos o resto do tempo”... ainda fico surpreendida quando te leio. Conheço-te bem mas quando te leio tenho a sensação que o tempo, esse sim, passa como um relâmpago e por isso sinto cada vez mais a tua ausência.

Anonymous said...

isto acontece-te muitas vezes?

...e assim se passa a vida...

(a tua escrita continua belíssima!)


:-)

intruso said...

"Pensávamos ser os eternos exploradores do amanhã mas não suspeitávamos sequer da impossível convalescença do nosso futuro."

...

(excelente)


abraço