
Luminosa pende a vida das nuvens, espalhando-se pelo porto, delicada e abundante. Enquanto a água se enruga lentamente para descansar, o vento suave corre pela ponte de madeira em busca dos momentos que a calidez da tarde promete. O céu é vasto como se guardasse um segredo imenso, um intenso convite a largar todo o receio de partir, a zarpar esta mesma tarde, a pisar a proa de uma qualquer embarcaçao e abandonar as velas do mastro ao vento. E as velas inchariam como nuvens febris, soltas no ar salgado, alvas como anjos empapados de águas mediterrânicas. Sonho com as velas que se confundem com os desfiladeiros sépia do céu do fim da tarde, com a água que se abre à passagem dos cascos brancos dos barcos. Abençoada corrente, venturoso vento, a pior tormenta hoje nao faria mais que submergir-me no novo mar do céu.