Monday, 5 October 2009

Sinais

Avenida Diagonal, Barcelona, Setembro 2009. Fotografia de K.


Espero um sinal de aviso, eu que tantas vezes escrevi as palavras secretas num papel, as gravei num grão de areia com a força da ilusão. Espero esse teu sinal. Iluminado por um halo de luz, como quando um grande navio cruza a costa diante das poderosas escarpas, ou quando na noite escura se incendeia a tenda de um circo oriundo de um país longínquo. Espero, impávido no entardecer, sob a memória de tribos antigas que percorreram intermináveis jazidas de carvão de ignotas minas, sob o olhar do tigre inclinado que parece apoiar-se nos últimos raios de sol. Espero um aviso, uma voz ou um assobio, entre os rios de imensos canaviais, e a opulência das montanhas verdes perdidas no horizonte. Procuro-te em todos os cantos do mundo, com uma tocha procuro em vão alumiar os vidros embaciados onde pudesses ter deixado o sinal mágico do teu segredo. Posso esperar, como sempre o fiz, sozinho ao entardecer, nestes dias em que não te deixam cruzar o umbral da ponte do meu rio, nem me deixam seguir pelos caminhos as linhas secretas das pedras do teu vale.

3 comments:

Anonymous said...

Ninguém escreve assim... lindo.

nikita said...

Tão lindo!

mjm said...

"com uma tocha procuro em vão alumiar os vidros embaciados onde pudesses ter deixado o sinal mágico do teu segredo" ---> "encosto o pensamento contra a vidraça/ uma estrela faria toda a diferença"

o q procuram os poetas, senão o q os transcende, pela sua simplicidade?