Boiro, Galiza. Fotografia de P.J.
Deitados na relva verde, olhamos para o céu infinito. Observo as nuvens que se escapam no horizonte, não sei para onde, e a poeira dourada do atardecer que acentua tanto a côr do céu. A tarde é lenta e o rumor do mundo parece uma sinfonia de sons que sai das águas da ria para nos contar sonhos de outros tempos. Ao longe as coisas parecem banhadas por lágrimas de prata, pequenas pérolas brilhantes estendidas sob a glória do sol. E os sons parecem formar palavras na brisa, liberdade, paixão, palavras que passam sobre nós, deitados na relva verde. Ao longe a lua sobe como um fantasma translúcido sobre a terra, e ao falar as nossas palavras fazem já parte daquela sinfonia, as vozes calmas que chamam as coisas pelo seu nome, independentemente do idioma. Espero poder reter na minha memória esta tarde, o momento indefinido em que sinto que o meu coração bate com mais força e já nada precisa de ser dito. A luz do sol saúda os nossos corpos e à nossa volta parece ter sido desvendado um segredo, uma comunhão com tudo o que nos rodeia, o segredo do amor mais antigo: o reencontro com a beleza do mundo. Deitados na relva verde, os nossos olhos inocentes são testemunhas fugazes deste espectáculo, a beleza inalterável do que permanecerá depois de nós. A ria é toda de prata e ouro para além dos altos pinheiros, os nossos corpos juntos são da côr da eternidade, e acima de nós o céu é azul, azul.